O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 27 de maio de 2013

segunda-feira

Hoje é segunda-feira e as velhas contam histórias de quando eram crianças.
Há buracos no asfalto a dar conta da terra que um dia foi fértil. 
Não há andorinhas a cantar no meu quintal. Os galos estão presos, longe da capoeira.
É segunda-feira, sempre à segunda-feira.
Não há um relógio parado a dar conta do tempo sem hora marcada. 
Nasce um pinguim sem hora de parto. Morre um falcão sem atestado deóbito.
Todos os dias, em cada dia, centenas de papeis determinam a vida.
Um homem sofre de amnésia e decreta que o tempo é ausente.
Tão próximo do velho que diz que a morte é presente. Encontra o sorriso de um dia que já não existe.
Todas as segundas-feiras nascem e morrem à segunda-feira.
O tempo de vida de uma borboleta.
O homem fraccionou o tempo. Desprezou o instante fugaz de um sopro que se desdobra noutro.
Adormece a noite na esperança de um novo dia.
Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo e segunda outra vez.

1 comentário:

platero disse...

BOM regresso

Gostei de reconhecer-te às primeiras palavras

beijo