O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 10 de abril de 2011

Silêncio, por Isabel Rosete

Permaneço no jardim imóvel do silêncio.
Nada me olha. Nada me fala. Embora procure
Escutar aquela voz que se ouve, ao longe, escondida,
Em derredor das orelhas do mundo,
Que também são as minhas e de alguns dos meus pares.
Permaneço na aprendizagem serena do silêncio,
Imersa no silêncio súbito da Terra. O meu corpo está calado.
Só se ouvem as vozes ermas dos campos,
No calor parado da tarde, que sempre me aquece.
Tudo o resto é supérfluo. Desfaz-se na calma
Do silêncio que me acompanha nesta minha peregrinação
Tão efémera. Até quando? Até que a Vida pereça?
Até que a Morte me leve? Até que as palavras secas
Me reduzam ao nada? Até que o meu corpo se desfaça
No mesmo pó que o ergueu?
Não vale a pena procurar outro Céu ou outro Inferno!
IR, 27/01/2011



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