O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 17 de março de 2011

Quando caminha tem o hábito de olhar para todos os lados, não vá uma faísca vir por aí desgraçar-lhe a vida. Sabe que tudo é vago na sua memória, que tem histórias alucinantes para dar cabo da literatura, mas fica-se pela frustração e o bater dos queixos até doer. As coisas vistas de cima parecem belas, mas, à medida que perdemos altitude o cheiro invade logo as narinas. 
Arrasta-se pelos dias, puxado por uma coleira de cólera. 
A magnitude de tudo isto é que pode sonhar com futuros cor-de-rosa e ninguém tem nada que reclamar. Na sua cabeça manda ele e ele é a sua cabeça e pouco mais. Um dia fez um filho à solidão e nasceram vinte poemas soltos que os reuniu em livro para editar quando for velhinho. 
A paciência é um lume. 
Tem acreditado bastante em fantasias, nomeadamente aquelas fantasias sem chão nem cama. Quando acordar para a morte quer ser um peixe que voa pelos instintos maternais. Sabe que está fora de toda a sincronização mas debate-se para libertar as algemas e chamar os astros. E assim, compassivamente, monta o seu próprio esqueleto.

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