O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Como um Padrão que pensa..."

4 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Ocorrem-me aqui os diversos sentidos de padrão e de marco: o primeiro, de descoberta, e do assinalar dela; o segundo, miliário, de limite ou de limites, e demarcador deles.

Ocorre-me também esta passagem:

"Não removas os marcos antigos, que teus pais fizeram" (Provérbios, 22, 28)

Talvez esta última acepção melhor conglomere todos os sentidos daquilo de que aqui falamos.

Mas a que mais nos fala, e melhor no-lo diz, e diz o que importa, é esta:

"Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só de Deus"

(Fernando Pessoa, in Mensagem, "Padrão")

João de Castro Nunes disse...

O... PADRÃO!

Em termos de expressão material
no que respeita à nossa identidade
entre as demais nações da humanidade,
quer antes ou quer na época actual,

ponho-me às vezes por curiosidade
a imaginar, a título informal,
como seria ao certo Portugal
sem o cantor da nacionalidade.

Sem Luís de Camões a terra lusa
seria uma nação de alma difusa
por não dispor de autênticos... padrões.

Eu nem quero pensar como seria
o "ninho seu paterno" se Camões
não possuísse o dom da Poesia!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Estudo Geral disse...

Puxa, amigo Damien, você sabe muitas coisas boas e escreve muito bem. Perdoe-me o elogio.

Amigo João, quanta honra me dá em ter um soneto seu em postagem minha e, logo com referências ao poeta que é Padrão de Portugal.

Já agora, desvendo o verdadeiro sentido da frase que me assaltou a mente e que não resisti em partilhar. A citação é de António Telmo que nos contou, quando da sua estadia em Brasília com Agostinho da Silva que ele o terá mandado para Granada, Espanha, para simplesmente nada fazer. "Vai e sê como um padrão que pensa", disse-lhe o Mestre.

Luiz Pires dos Reys disse...

Muito grato, caro Luis Santos, pelo precioso detalhe, quanto à origem da frase, tão imperativa quão enigmática: Vamos, então... "nada fazer"!