O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 25 de agosto de 2009

o ser do ente

a serenidade que sabe é uma passagem para o eterno. a sua porta gira sobre os gonzos que um hábil ferreiro um dia forjou a partir dos enigmas da existência.

...

à última badalada, o silêncio torna-se ainda mais fundo. ele estende-se até àqueles que durante as duas guerras mundiais foram prematuramente sacrificados. o simples tornou-se ainda mais simples. o sempre idêntico supreende e desdobra-se. o apelo do caminho do campo é agora inteiramente claro. é a alma que fala? é o mundo? é deus?

tudo diz o abandono ao mesmo. o abandono não destitui, mas dá. ele dá a inesgotável força do simples. o apelo repatria para uma recôndita origem.

9 comentários:

Anónimo disse...

Aquele que, lembrando-se de mim na sua derradeira hora, abandona o seu corpo mortal e parte, esse acede ao meu ser; não existe dúvida sobre este ponto.

Bagavad Guitá, VIII, 5

Anónimo disse...

Então, o que acontece quando morremos? É como se estivéssemos a regressar ao estado original, tudo se dissolve quando o corpo e a mente se desenredam. Os três «venenos» - ira, desejo e ignorância - morrem todos, o que significa que as emoções negativas, a raiz do samsara, terminam completamente e surge uma «fenda».
Onde nos leva este processo? Para a base primordial da natureza da mente, com toda a sua pureza e simplicidade natural, pois tudo o que a obscurecia é removido, revelando a nossa verdadeira natureza.

O Livro Tibetano da Vida e da Morte, Sogyal Rinpoche

Anónimo disse...

O mestre, tal como o principiante, não conhece o medo, mas ao contrário deste torna-se de dia para dia mais imune ao terror. Ao longo de anos de constante meditação ele descobriu que, no fundo, vida e morte são uma e a mesma coisa, e pertencem ao mesmo plano do destino. Por isso já não distingue a angústia da vida e o medo da morte. Ele tem prazer em viver neste mundo - o que é muito característico do espírito Zen - mas em qualquer altura está preparado para separar-se dele, sem se deixar perturbar pela ideia da morte.

Eugen Herrigel, Zen e a Arte do Tiro com Arco

Anónimo disse...

“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais.

Shakespeare, Hamlet

Anónimo disse...

o repatriamento é assumir a não-pátria

aqui-agora

baal disse...

a vida singular/sujeito não é mais que a actualização de uma vida imanente, é no plano de imanência ou campo transcendental como potência que flui uma vida, que se actualiza na vida do sujeito. todas as coisas e todos os seres aparecem como expressões, como actualizações de virtualidades do plano imanente, como formações transcendentes produzidas sobre o plano.


não ensandeci, só tenho que estudar o g. deleuze (o que vai dar quase ao mesmo)

o texto, como é evidente é de m. heidegger- o caminho do campo- trad. prof. m. blanc

Anónimo disse...

baal,

Cheguei e vou partir de novo.

Vou perguntar às gaivotas!...

Vou ver se a serenidade é essa eterna passagem ou se não há passagem para a eternidade... nem "gonzos", nem "ferreiros", nem mesmo os maiores enigmas têm mais importância do que ouvir a respiração das flores.

Serenamente...

A "Origem" é onde nos sememos em asas para além dos tempos e do tempo: para além do para além !...

Não, a alma não é deus e o espírito vive nos olhos do Vivente e de todos os seres, formando com eles um todo. E cada um é como um fruto: inteiro, uno, como uma semente nos céus, movemos e incendiamos nossos corpos e nossas mentes...

E pensamos no ser "do.ente" que somos. Assim ficamos mesmo doentes! (sorriso)

E na ternura de uma Saudade pura, quem sabe se de volta ao jardim!?

Bjos, baal.

Um resto de férias "Deleuze.ciosas"

Anónimo disse...

Andam brincando com as palavras

Anónimo disse...

Baal, estás de facto inspirado...mas q resposta, heim? um bj para ti e sauddsfut