O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 26 de julho de 2009

ardente desmesura


ardente de sóis de sempre de inquietação ardente
o meu ser ardente traça-se no espaço corola ardente
semente de girassol ardente jogada ao acaso
pela força ardente de não ter que ser
alada sede vespertina
consumada agonia do horizonte
circum-navegação do oceano de ser mais
vela de espanto largada ao vento
perdição consumada a cada instante
ardente paixão de ser errante
todos os versos são derradeiros
todos os poemas são verdadeiros
sem razão sem impostura
na implosão da continuação
a versificação do sem nome
e

3 comentários:

nuno maltez disse...

"vela de espanto largada ao vento
perdição consumada a cada instante"

muito bom. respira-se.

ardente disse...

BOMBEIROS! INCENDIÁRIO À VISTA!

rmf disse...

Bela Paulo,
não só a palavra mas também a fotografia, de uma ardência em cor onde os tons de terra e fogo se sublimam ondulados sobre os espelhos.

Ardente desassossego de poeta, que reduz palavras a sementes, lançadas em oceanos onde, infinitésimais, florescem como velas guiadas em cada instante pelo vento errante que ilumina a caminhada.

Um abraço soalheiro, amigo.
Até breve.