O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 23 de setembro de 2008

(Um) Outono




O Sol cruzou hoje o plano do equador celeste, naquele que é o seu movimento anual (aparentemente elíptico) e a esse instante do Universo chama-se Equinócio de Outono.

Dia e noite demoram o mesmo tempo a passar. Dia e noite iguais, no hemisfério norte.
É linda esta Igualdade, é linda a Natureza e é lindo todo o Universo.
A harmonia entre dia e noite, luz e breu, Sol e Lua, claro e escuro.

Chego a esta altura do ano e começo a sentir saudades do futuro.
Espero pelos dois meses mais difíceis do ano, Outubro e Novembro.
Espero por eles a pensar neles e sentir falta deles em mim. Porque eles sempre me despertam para mim mesma, para a minha essência, para o que sou, para o que fui e para o que me tornei.
Nestes dois meses de Outono, olho-me no espelho, olho-me nos meus olhos e explico-me a mim mesma tudo aquilo que me quero dizer e não me entendo, não me reconheço.

Paro muito, recuo muito, avanço e volto a trás. Tudo isto em suspensão.
É uma altura de poucas palavras, de muito silêncio.
O Outono trás de volta a minha alma, o meu passado e o meu futuro. Traz-me de mim, recupera-me o "Ser".

Vem Outono!
Vem sem pressa, que eu não tenho tempo a perder com pressas e o meu passado e o meu futuro em ti se unem, em mim mesma.

Chegaste, Outono!
E Cheguei eu! Ou parti, é a mesma coisa.

Fechei os olhos, fiquei em silêncio e ouvi o som que tanto precisava ouvir:
o bater do coração.

Renasci e Morri de mim.
Preciso acender uma vela laranja, uma dourada, uma amarela.
Este Outono vai ser maravilhoso*


*excerto de texto publicado originalmente no blog da Sereia*

1 comentário:

rmf disse...

Ou (apenas) (um) (outro) Outono?

Neste Outono, direi melhor... AGORA... temos Andrómeda no Zénite, bem no alto das mentes...

Melhor ainda... Há uma galáxia denominada M31, situada a uma distância para nós incompreensível que gira perpendicularmente ao nosso eixo, também nesta noite de Outono... estrelada... aqui por estas bandas...

A constelação Andrómeda e a galáxia M31 são o que se pode chamar vizinhas, dada a distância aparente entre ambas...

Se por aí houver uma abertura por entre este céu nublado, aproveitem...
Não é todos os dias que isto acontece, ao contrário do Outono... (apenas) (um) (outro) Outono na nossa efémera passagem enquanto mortais na Via Láctea...

Vida, agora em metamorfose (lembro-me da cor das folhas), também ela uma efeméride, tão passageira, que só nós damos pela sua presença... ou a sua ausência.

Boa noite, muito boa noite.