O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 2 de julho de 2008

A Língua

Não resisto a colocar aqui este excerto do artigo da Isabel Santiago publicado na revista Nova Águia, primeiro número:

"É a Língua que descobre territórios para a alma, descobre o que está para além das fronteiras do dito e do constituído como sentido e significação intemporal que um conjunto de falantes já tinha como acervo e prática dialogante, e como compreensão de si e da vida. A Língua alarga não o espaço real e físico, mas o espaço da comunhão e da revelação do que somos independentemente do espaço e do tempo em que nos encontramos."

É por isso que é preciso prezar quem cuida da Língua, quem a alarga, quem a distende, quem não a manipula, porque são esses que fornecem os mecanismos constitutivos da identidade e da comunhão: os poetas e os pensadores. Para que a vida não seja a mecanização e a subserviência às leis da produção e do consumo enquanto fonte geradora de riqueza e destruidora do planeta (a única riqueza). A esta hora o nosso primeiro ministro dá uma entrevista na RTP; quem aposta que nem uma única palavra será pronunciada sobre a Cultura?

2 comentários:

Paulo Borges disse...

Hoje em dia uma condição importante para se subir na vida e, sobretudo, na política, é ser-se insensível e inculto, entendendo-se por cultura a formação integral presidida por uma visão desegoízada e não utilitária do mundo... Não admira que um tecnocrata não fale de Cultura.

Anónimo disse...

A «revelação e a comunhão» é tudo o que os nossos políticos esqueceram ou de que nunca se lembraram. A língua que falam não pode ser a mesma Língua que Isabel
refere.
Como diz o Paulo, não pode ter para eles qualquer utilidade. Os seus propósitos são outros bem diversos...