O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Terra Vermelha

Quem não ama
não ousa.

Quem não ousa
não ama.

Só o sol e o firmamento
me calam
e o mar será
minha cama.

O meu peito desfeito em retalhos
pelas lâminas que agregam as névoas do exílio
tem pedaços enterrados
em terra vermelha de ocasos,
e laços desatados
adejando ao vento em cidades brancas
suspensas sobre rios.

Teço em meus dedos o dia
em que o vermelho e o branco se fundam
nas espirais da Rosa
e o sol se erga de vez
das entranhas da terra.

Quem não ousa
não ama.

Quem não ama
não ousa.

Que a viagem seja mandato
gravado a ouro
numa lousa.

Que a Voz cale todas as vozes
e o Verbo se liberte por fim da garganta.

E que o cio do Cosmos
se descubra em nossos olhos
quando ouvirmos
o encontro das cores
que Deus quis no Homem
ver nascer.

5 comentários:

Paulo Feitais disse...

quem não ama não ousa
porque amar
é ir mar a fora
com a esperança
de poder beijar as estrelas
de abraçar as vagas
e com elas ser a inquietação da aurora
e não querer mais que isto
;)

Paulo Borges disse...

Belo poema, Ana !

Anónimo disse...

Ana,

Gostei muito do teu poema.

Vivam os «sociólogos poetas»

Uma braço do tamanho do mundo.

Joana Serrado disse...

A uma estrela nem o sol e o firmamento ousam tirar a palavra!

Parabéns, Ana. beijinhos!

luizaDunas disse...

Que sulfurosa paixão, Ana. Como tu ousas!

Recortei a Terra Vermelha, a Epístola do Sol à Lua Crescente, a Canção do Pelicano e o Toda a Luz Amalgamada ; juntei os poemas no muro, como se juntam azulejos, e debrucei-me como no Oiço, assim de olhos fechados, a vê-los coincidir no barro e no ouro.