O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O eu é o mestre do eu

Bertrand Russell disse, a propósito da máxima cartesiana, que dela apenas poderíamos inferir que há pensamentos, mas não que há um pensador. Poderíamos afirmar o mesmo acerca do sonho (supondo, para o caso, que a realidade o é)? Que só este existe, mas não um sonhador?

Note-se que não se segue do facto de as nossas inferências serem limitadas a certas conclusões que não existam outras mais à frente, inacessíveis pelo aparelho do humano raciocínio.

Embora eu não seja muito de práticas - mea culpa, preguicite aguda -, creio que o (verdadeiro) conhecimento de algo como a mente só é possível através da introspecção, primeira pessoa, podendo depois ser transformado, se possível, em discurso verbal, provindo no entanto dessa introspecção, tal como o leite provém da vaca e não do supermercado. Quero com isto dizer que só poderá advir mais conhecimento acerca da mente se nela penetrarmos, se sobre ela nos indagarmos, e nunca de outro modo.

Neste sentido, penso que é saudável que adoptemos uma máxima budista que diz que o eu é o mestre do eu, na medida em que o conhecimento de nós mesmos - sim, supondo que existimos, ou que algo existe - só surgirá por indagação de nós sobre nós.

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